
Cristina Cavaleiro
Em meio ao barulho compassado das máquinas de costura e ao colorido vibrante dos tecidos, Regina Costa, de 65 anos, transforma linhas em afeto, tecidos em histórias e cada ponto em memória viva de um amor que a move, o amor pela neta Lívia. Natural de Nova Venécia, no interior do Espírito Santo, Regina escolheu Várzea Grande como lar desde 1979. E foi ali, no calor humano do bairro Cristo Rei, que nasceu uma empreendedora movida por afeto, resiliência e paixão pela arte de costurar.
Casada com um paulistano e mãe de quatro filhos, Regina enfrentou os desafios de uma vida simples, marcada pelo esforço conjunto com o marido, um pedreiro dedicado, para garantir o sustento da família. A trajetória no mundo da costura começou na década de 1990, quando fez seu primeiro curso básico, oferecido pelo Serviço Social da Indústria (Sesi-MT). Era o início de uma jornada que, embora interrompida algumas vezes, nunca deixou de pulsar no coração da costureira.
Após trabalhar em uma fábrica de roupas infantis, Regina trocou os tecidos pelos temperos, passou a atuar como secretária do lar, cozinhando e cuidando das casas de famílias cuiabanas. Sua habilidade na cozinha era tanta que, em 2014, quando os filhos já estavam formados, ela decidiu abrir uma lanchonete na frente de sua casa. Pastéis crocantes, cachorro-quente gourmet e tapiocas caprichadas eram os destaques do cardápio, todos feitos com aquele tempero que só quem cozinha com alma sabe dar.
Mas foi com a chegada de Lívia, sua neta cuiabana, que Regina deu uma guinada. Fechou a lanchonete para se dedicar inteiramente à menina. O laço entre avó e neta se entrelaçou com a mesma firmeza dos pontos de costura que Regina tanto ama. Quando Lívia completou cinco anos, algo dentro de Regina despertou, o desejo de retomar a costura, agora com mais experiência, mais amor e mais vontade de fazer bonito, por ela e por sua “apequena”.
“Como sou mãe com açúcar, assim que nós, avós que paparicamos nossos netos, somos chamadas, a dedicação pela minha neta fez com que eu voltasse à atividade com todo gás”, diz, com os olhos marejados. “Toda tarde, Lívia traz suas bonecas para a vovó fazer os vestidinhos para elas. Às vezes, paro tudo para costurar essas roupinhas, só para ver ela sorrir e me dizer, ‘Ficou lindo, vovó, eu te amo’. Isso me fortalece.”
E, fortalecida, Regina mergulhou de volta à costura. Fez um novo curso, mais atualizado e profissional, e investiu no próprio ateliê, comprou quatro máquinas (reta, overloque, galoneira e zigue-zague), além de manequins e móveis. Hoje, recebe encomendas de toda Várzea Grande e Cuiabá, troca zíperes, ajusta barras, reforma roupas e faz customizações que valorizam cada peça como única.
Aos 65 anos, Regina não pensa em parar. “Cada peça que chega é um desafio diferente e, ao mesmo tempo, um aprendizado único”, diz. O dinheiro das costuras ajuda nas despesas da casa, especialmente agora que o marido está aposentado. Mas o verdadeiro combustível vem do brilho nos olhos da neta. “Ela é minha inspiração. É por ela que faço tudo com tanto amor.”
E Regina já tem planos para o futuro, quer expandir seu trabalho para o artesanato, produzindo peças decorativas para a cozinha, como panos de prato, caminhos de mesa, sousplats e puxa-sacos com tecidos coloridos, como as alegres chitas nordestinas.
O ateliê de Regina é mais do que um espaço de trabalho, é um refúgio de afeto, um ninho de memórias e um palco onde a ternura se transforma em arte. Em cada costura, ela não apenas ajuda no sustento da casa, mas tece, com amor, os fios invisíveis de uma história que se perpetua, e que, como todo bom bordado, é feita com paciência, dedicação e emoção.

