
Patrícia Santos –Nutrição clínica funcional e hospitalar @patriciasantos_nutrimt
Cristina Cavaleiro
A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é uma condição funcional crônica do trato gastrointestinal que afeta milhões de pessoas no mundo, embora muitas delas nem saibam que convivem com o problema. Diferente de doenças inflamatórias intestinais como a Doença de Crohn ou a retocolite ulcerativa, a SII não causa lesões visíveis no intestino, mas os sintomas são reais e podem ser profundamente debilitantes. Dor abdominal constante, alterações no ritmo intestinal (diarreia ou constipação), gases em excesso, fezes com muco e a incômoda sensação de evacuação incompleta são sinais que comprometem o bem-estar físico, mental e social.
Muitas vezes, os sintomas da SII são minimizados ou confundidos com questões emocionais, levando ao atraso no diagnóstico e, consequentemente, no tratamento. No entanto, cada vez mais estudos reforçam o papel central da alimentação no manejo da doença. E é aqui que a nutrição ganha protagonismo.
A atuação do nutricionista vai além de simplesmente indicar o que comer ou evitar. O profissional avalia o histórico alimentar e clínico do paciente, identificando gatilhos alimentares e propondo um plano alimentar individualizado, com foco na redução da inflamação, no equilíbrio da microbiota intestinal e na melhoria da digestão. O protocolo alimentar com baixo teor de FODMAPs, por exemplo, tem se mostrado eficaz em muitos casos. Trata-se da exclusão temporária de determinados carboidratos fermentáveis que podem causar gases e distensão abdominal. Frutas como banana, morango, uva e mirtilo, vegetais como espinafre e couve-flor, e proteínas magras como frango e peixe são boas opções para pacientes com SII.
A nutrição funcional também pode sugerir o uso de suplementos que promovem a reparação da mucosa intestinal e reduzem a inflamação local, como glutamina, ômega-3 e probióticos específicos. Além disso, a simples prática de manter-se hidratado – muitas vezes subestimada – tem impacto direto no funcionamento intestinal e na consistência das fezes.
Vale lembrar que a SII não tem cura, mas pode ser controlada. Com o apoio certo, é possível viver com mais conforto e menos limitações. Porém, é fundamental que qualquer mudança alimentar ou suplementar seja feita com orientação profissional. Cada organismo reage de forma diferente, e o que funciona para um paciente pode não funcionar para outro.
Outro ponto que não pode ser ignorado é o fator emocional. O intestino é muitas vezes chamado de “segundo cérebro”, devido à estreita relação entre o sistema nervoso e o sistema digestivo. Estresse, ansiedade e depressão podem piorar os sintomas da SII, reforçando a importância de um tratamento que leve em conta corpo e mente.
Portanto, se você percebe sintomas persistentes como dor abdominal, gases excessivos, alterações nas evacuações ou desconforto intestinal frequente, não normalize essa situação. Procure ajuda. A combinação entre diagnóstico precoce, acompanhamento nutricional adequado e, quando necessário, apoio psicológico, pode transformar a forma como você vive com a SII.
Mais do que tratar os sintomas, o objetivo é devolver ao paciente a autonomia sobre sua saúde e qualidade de vida. A nutrição, neste processo, é uma ferramenta essencial — e, muitas vezes, decisiva.