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Artigo Terça-feira, 15 de Outubro de 2024, 11:21 - A | A

Terça-feira, 15 de Outubro de 2024, 11h:21 - A | A

Economia

Por que diversificar pode ser o maior erro do seu investimento

Sua diversificação pode estar destruindo sua carteira

14.out.2024 às 21h10  

Artigo de Michael Viriato, Site do Jornal Folha de S. Paulo  

Suponha que você está montando uma pizza. Sim, uma pizza. Você quer experimentar vários sabores e decide colocar um pouco de tudo: queijo, presunto, abacaxi, camarão, chocolate e, por que não, brócolis e goiabada. A ideia era diversificar, certo? Mas o resultado é um desastre. Nem mesmo o queijo, que deveria ser o ingrediente principal, consegue se destacar em meio a tanta mistura. No mundo dos investimentos, diversificar sem critério é um pouco como essa pizza caótica, e pode acabar gerando resultados bem indigestos.     

Diversificar é, muitas vezes, o primeiro conselho que ouvimos quando começamos a investir. Parece uma daquelas regras sagradas que não se pode contestar, mas será que faz sentido colocar um pouco de cada ativo na carteira só para dizer que você está diversificando? A resposta, como você pode imaginar, não é tão simples. Não se investe em algo apenas para diversificar. O foco deve ser no retorno que aquele ativo pode proporcionar e na contribuição ao risco da carteira que esse ativo adiciona.  

Muitas pessoas mantêm ativos em suas carteiras que, ano após ano, não entregam resultados satisfatórios e adicionam um baita risco. Quando questionadas, a resposta é quase sempre a mesma: "É para diversificar." Mas será que essa estratégia realmente está cumprindo seu objetivo? Diversificar não significa dividir aleatoriamente seus investimentos. A ideia é reduzir o risco, claro, mas com inteligência. Se você busca ganhar do CDI e acompanha sua carteira mensalmente, exigindo que ela supere o indexador todo mês, a diversificação indiscriminada pode ser, na verdade, um péssimo negócio.  

Vamos ser sinceros: quantas vezes você ouviu que é importante investir em ações brasileiras, simplesmente porque "é preciso diversificar"? Mas será que essa diversificação faz sentido para o seu perfil de investidor? Talvez não. Se o seu foco está em garantir uma rentabilidade atrelada ao CDI, entrar em ativos mais arriscados sem um motivo claro pode ser mais prejudicial do que benéfico.  

A teoria financeira que tanto seguimos foi, em grande parte, desenvolvida no mercado americano. A renda fixa deles é o equivalente à nossa caderneta de poupança, ou seja, quase não supera a inflação. Logo, eles são obrigados a buscar risco para alcançar melhores retornos. Nos Estados Unidos, o S&P500 rendeu, nos últimos 20 anos, o equivalente à inflação (CPI) mais 5,8% ao ano. No Brasil, esse retorno pode ser alcançado com relativa facilidade na renda fixa.  

Agora, veja o quão diferente é o cenário para o investidor brasileiro. Com nossos juros altos, podemos obter retornos expressivos com ativos de menor risco. Portanto, importar cegamente estratégias de diversificação dos Estados Unidos para o Brasil pode não ser a melhor abordagem. Precisamos "tropicalizar" a teoria financeira, adaptá-la à nossa realidade.  

E por falar nisso, o CDI é como a pizza de mussarela: simples, tradicional e, muitas vezes, a escolha mais segura. Quando você quer garantir que a pizza não vai decepcionar, escolhe mussarela. E, assim como a mussarela, o CDI oferece retornos sólidos com pouco risco. Mas isso significa que você nunca deve experimentar outros sabores? Claro que não, mas é preciso avaliar bem o que você vai colocar no cardápio. Diversificar só por diversificar pode acabar arruinando o conjunto.  

Há também um grande perigo em criar mitos na sua cabeça sobre a necessidade de ter um tipo específico de investimento. Você não precisa investir em ações ou em fundos de um setor específico apenas para dizer que está diversificando. A diversificação deve ser uma ferramenta, não uma desculpa para manter ativos que não fazem sentido dentro da sua estratégia.  

No Brasil, tomar risco é algo que precisa ser avaliado com muito mais cuidado do que em mercados mais maduros e estáveis. Os juros altos oferecem oportunidades que, em muitos casos, tornam o risco desnecessário para certos perfis de investidores. Portanto, diversificar por diversificar, sem entender o impacto real na sua carteira, pode ser um grande erro.  

No fim das contas, a pizza diversificada pode até parecer interessante no começo, mas se você não pensar bem nos ingredientes, o resultado pode ser intragável. O mesmo vale para sua carteira de investimentos. Diversifique, sim, mas sempre com foco no retorno e sem perder de vista o que realmente importa: bons ingredientes fazem toda a diferença.  

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor. Publicou este artigo em 14 de Outubro, no site da Folha de S. Paulo.

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