14.out.2024 às 21h10
Artigo de Michael Viriato, Site do Jornal Folha de S. Paulo
Suponha que você está montando uma pizza. Sim, uma pizza. Você quer experimentar vários sabores e decide colocar um pouco de tudo: queijo, presunto, abacaxi, camarão, chocolate e, por que não, brócolis e goiabada. A ideia era diversificar, certo? Mas o resultado é um desastre. Nem mesmo o queijo, que deveria ser o ingrediente principal, consegue se destacar em meio a tanta mistura. No mundo dos investimentos, diversificar sem critério é um pouco como essa pizza caótica, e pode acabar gerando resultados bem indigestos.
Diversificar é, muitas vezes, o primeiro conselho que ouvimos quando começamos a investir. Parece uma daquelas regras sagradas que não se pode contestar, mas será que faz sentido colocar um pouco de cada ativo na carteira só para dizer que você está diversificando? A resposta, como você pode imaginar, não é tão simples. Não se investe em algo apenas para diversificar. O foco deve ser no retorno que aquele ativo pode proporcionar e na contribuição ao risco da carteira que esse ativo adiciona.
Muitas pessoas mantêm ativos em suas carteiras que, ano após ano, não entregam resultados satisfatórios e adicionam um baita risco. Quando questionadas, a resposta é quase sempre a mesma: "É para diversificar." Mas será que essa estratégia realmente está cumprindo seu objetivo? Diversificar não significa dividir aleatoriamente seus investimentos. A ideia é reduzir o risco, claro, mas com inteligência. Se você busca ganhar do CDI e acompanha sua carteira mensalmente, exigindo que ela supere o indexador todo mês, a diversificação indiscriminada pode ser, na verdade, um péssimo negócio.
Vamos ser sinceros: quantas vezes você ouviu que é importante investir em ações brasileiras, simplesmente porque "é preciso diversificar"? Mas será que essa diversificação faz sentido para o seu perfil de investidor? Talvez não. Se o seu foco está em garantir uma rentabilidade atrelada ao CDI, entrar em ativos mais arriscados sem um motivo claro pode ser mais prejudicial do que benéfico.
A teoria financeira que tanto seguimos foi, em grande parte, desenvolvida no mercado americano. A renda fixa deles é o equivalente à nossa caderneta de poupança, ou seja, quase não supera a inflação. Logo, eles são obrigados a buscar risco para alcançar melhores retornos. Nos Estados Unidos, o S&P500 rendeu, nos últimos 20 anos, o equivalente à inflação (CPI) mais 5,8% ao ano. No Brasil, esse retorno pode ser alcançado com relativa facilidade na renda fixa.
Agora, veja o quão diferente é o cenário para o investidor brasileiro. Com nossos juros altos, podemos obter retornos expressivos com ativos de menor risco. Portanto, importar cegamente estratégias de diversificação dos Estados Unidos para o Brasil pode não ser a melhor abordagem. Precisamos "tropicalizar" a teoria financeira, adaptá-la à nossa realidade.
E por falar nisso, o CDI é como a pizza de mussarela: simples, tradicional e, muitas vezes, a escolha mais segura. Quando você quer garantir que a pizza não vai decepcionar, escolhe mussarela. E, assim como a mussarela, o CDI oferece retornos sólidos com pouco risco. Mas isso significa que você nunca deve experimentar outros sabores? Claro que não, mas é preciso avaliar bem o que você vai colocar no cardápio. Diversificar só por diversificar pode acabar arruinando o conjunto.
Há também um grande perigo em criar mitos na sua cabeça sobre a necessidade de ter um tipo específico de investimento. Você não precisa investir em ações ou em fundos de um setor específico apenas para dizer que está diversificando. A diversificação deve ser uma ferramenta, não uma desculpa para manter ativos que não fazem sentido dentro da sua estratégia.
No Brasil, tomar risco é algo que precisa ser avaliado com muito mais cuidado do que em mercados mais maduros e estáveis. Os juros altos oferecem oportunidades que, em muitos casos, tornam o risco desnecessário para certos perfis de investidores. Portanto, diversificar por diversificar, sem entender o impacto real na sua carteira, pode ser um grande erro.
No fim das contas, a pizza diversificada pode até parecer interessante no começo, mas se você não pensar bem nos ingredientes, o resultado pode ser intragável. O mesmo vale para sua carteira de investimentos. Diversifique, sim, mas sempre com foco no retorno e sem perder de vista o que realmente importa: bons ingredientes fazem toda a diferença.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor. Publicou este artigo em 14 de Outubro, no site da Folha de S. Paulo.