É fato que, em praticamente todos os segmentos profissionais, existem os bons – geralmente a maioria – e os maus profissionais. Na Polícia Penal, isso não é diferente. Porém, o que chama a atenção é a insistência de várias autoridades, incluindo o próprio governador e o presidente do Grupo de Monitoramento do Sistema Penitenciário (GMF), em focar suas declarações, quando se trata da entrada de celulares nas unidades prisionais, exclusivamente na suposta corrupção de servidores.
Essas autoridades se esquecem das centenas de apreensões realizadas anualmente nas unidades do sistema penitenciário do Estado de Mato Grosso. Drones abatidos em Rondonópolis e outras unidades; visitantes flagrados tentando entrar com celulares durante as revistas; funcionários de empresas terceirizadas envolvidos; presos que trabalham fora e retornam apenas para dormir; e presos que atuam em fábricas e obras nas unidades prisionais são apenas algumas das inúmeras estratégias utilizadas para burlar o sistema e garantir o acesso aos aparelhos.
Se alguém tiver dúvidas, basta uma rápida busca no Google para encontrar as centenas de vezes em que policiais penais impediram a entrada de celulares ou os apreenderam durante revistas. Ainda assim, é mais fácil para essas autoridades culpar quem não pode se defender, já que uma portaria antiga da Secretaria de Administração Penitenciária (SAAP) proíbe o policial penal de divulgar ou compartilhar informações sobre as apreensões realizadas.
Outro ponto que essas autoridades não mencionam é o estado em que se encontra a segurança interna do sistema penitenciário, resultado de concessões feitas ao longo do tempo pelos próprios órgãos fiscalizadores. Sob o pretexto de evitar motins e rebeliões, visitas do GMF e outros órgãos frequentemente resultam em flexibilizações de regras que tornam o trabalho dos policiais penais ainda mais difícil.
O que mais revolta e desmotiva a categoria é a generalização das críticas. Muitos desses que apontam o dedo, surpresos com a situação, são diretamente responsáveis pelas condições que hoje enfrentamos.
Por outro lado, é importante destacar o comprometimento da maioria dos policiais penais e servidores do sistema penitenciário. Esses profissionais, muitas vezes arriscando a própria vida e deixando suas famílias em casa, se dedicam à execução da pena com dignidade, buscando dar oportunidades reais para aqueles que querem ser reinseridos na sociedade. A atual administração do sistema penitenciário tem mostrado preocupação em melhorar as condições de trabalho, valorizar os servidores e garantir uma gestão que promova a verdadeira justiça, equilibrando segurança e ressocialização.
No entanto, se não houver vigilância constante, o sistema corre o risco de voltar ao caos de antes, com permissividades e descaso. O momento exige regramentos mais rígidos e o apoio irrestrito aos servidores que estão na linha de frente. A segurança no sistema penitenciário não será alcançada com discursos simplistas que transformam o policial penal em bode expiatório, mas com investimentos, tecnologia, valorização profissional e, acima de tudo, responsabilidade compartilhada.
O policial penal é parte da solução, e não o vilão que muitos insistem em pintar.
João Batista é ex-deputado estadual, ex-presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários e atualmente presidente da Associação dos Policiais Penais de Mato Grosso.